O infecciologista da Unidade Local de Saúde de Matosinhos – Hospital Pedro Hispano começou por sublinhar a atualização das guidelines no primeiro dia do AIDS 2022, que “já se esperavam desde 2019”. Continuou fazendo referência a novas atualizações das guidelines de doenças oportunistas, fundamentalmente o tratamento da tuberculose (TB). “Foi gerado muito debate”, afirmou.
Em termos de ensaios clínicos, o especialista em Infecciologia salientou dois ensaios. Um dos quais o ODYSSEY, que envolveu crianças e adolescentes, de que “já tínhamos resultados de 2021, sendo agora uma atualização, e que demonstra superioridade em termos de eficácia e de segurança do dolutegravir”. O outro ensaio apresentado foi o resultado final de um estudo de quatro anos, “também com dolutegravir, que decorreu em África e que revelou uma maior incidência do aumento de peso e da síndrome metabólica e, provavelmente como consequência, o aumento da diabetes”.
Em termos da profilaxia pós-exposição (PEP) para o VIH, o especialista evidenciou os resultados apresentados do ensaio DoxyPep, que estuda o uso da doxiciclina associada à PEP [após a relação sexual] para a prevenção das infeções sexualmente transmissíveis (IST). “Houve uma grande eficácia demonstrada e dois terços da população não ficou infetada com IST. O resultado é muito bom e prova que se pode fazer prevenção de IST como a gonorreia, sífilis e clamídia”, frisou o Dr. Correia de Abreu, acrescentando que, no entanto, “levanta-se um problema que é o da resistência do gonococcus à doxiciclina, sendo que passou de 20% em ensaios europeus para 40% neste ensaio. Há outros ensaios a decorrer e vamos aguardar pelos resultados”.
Relativamente à PrEP, o infecciologista fez referência ao uso desta profilaxia durante a gravidez e mencionou os dados apresentados de um ensaio que decorreu no Quénia com 1400 mulheres.
O Dr. Correia de Abreu focalizou-se também na vacina, que “é aguardada com expectativa”, embora o que foi dado a conhecer não tivesse tido “a resposta esperada”.
Depois de referir casos de pessoas que ficaram curadas em determinadas circunstância, como é o caso de uma mulher que está a ser acompanhada em Barcelona há 15 anos, o Dr. Correia de Abreu enfatizou que tudo “é uma incógnita”, contudo “um fator de esperança”.
O infecciologista terminou a exposição à News Farma abordando a “resposta da infeção Monkeypox, um tema atual que muita preocupação tem levantado não pela questão da doença em si, mas fundamentalmente pelos aspetos comportamentais em certas populações”.